Tarifaço de Trump: Brasil tenta evitar retaliação dos EUA

Governo brasileiro busca diálogo com Washington para proteger exportações e manter relações comerciais estáveis.

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O governo brasileiro espera ser poupado do tarifaço prometido por Donald Trump, que deve ser anunciado nesta quarta-feira (2). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que seria estranho o Brasil sofrer retaliações comerciais dos Estados Unidos.

“Os EUA têm uma posição muito confortável em relação ao Brasil, até porque é superavitário tanto em bens quanto em serviços”, declarou Haddad em Paris, nesta terça-feira (1º).

Brasil teme impacto do tarifaço de Trump

O comércio entre os dois países favorece os EUA. O Brasil importa mais produtos americanos do que exporta para o país. Por isso, o governo brasileiro não vê justificativa para medidas punitivas.

Causaria até certa estranheza se o Brasil sofresse algum tipo de retaliação injustificada, uma vez que estamos na mesa de negociação desde sempre com aquele país justamente para que a nossa cooperação seja cada vez mais forte”, completou Haddad.

O posicionamento do ministro ocorre em meio à expectativa global sobre o novo pacote tarifário que Donald Trump, pré-candidato republicano à presidência dos EUA, deve anunciar. A medida pode atingir diversos parceiros comerciais dos Estados Unidos.

Relatório dos EUA critica tarifas brasileiras

Na véspera do anúncio, um relatório do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR) criticou o modelo tarifário brasileiro. O documento aponta barreiras em setores como etanol, filmes, bebidas alcoólicas, carne suína, máquinas e equipamentos.

O relatório destaca que o Brasil mantém tarifas elevadas e práticas consideradas restritivas para importações americanas. A crítica pode servir de base para justificar futuras medidas retaliatórias por parte dos EUA.

Apesar disso, o governo brasileiro reforça que mantém diálogo aberto com Washington. O Itamaraty e o Ministério da Fazenda têm atuado conjuntamente para evitar sanções.

Senado aprova projeto de reciprocidade comercial

Em resposta ao cenário internacional, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou, por unanimidade, o Projeto de Lei da Reciprocidade Comercial (PL 2.384/2023).

O texto autoriza o governo brasileiro a adotar medidas de retaliação contra países que impuserem barreiras unilaterais às exportações nacionais. A proposta agora segue para análise na Câmara dos Deputados.

O relator, senador Tasso Silva (sem partido), afirmou que o projeto fortalece a posição do Brasil nas negociações internacionais. “Não podemos aceitar práticas comerciais que prejudiquem nossa indústria e nossos produtores”, disse.

Impactos para a economia do Amazonas

O possível tarifaço preocupa setores da Zona Franca de Manaus. A região depende de insumos importados e exporta produtos eletroeletrônicos e motocicletas, que podem ser afetados por barreiras tarifárias.

Segundo a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), os EUA são o segundo maior destino das exportações da região, atrás apenas da Argentina. Em 2023, as exportações para os EUA somaram US$ 1,2 bilhão.

Empresários locais temem que a adoção de tarifas reduza a competitividade dos produtos amazonenses no mercado internacional. A Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) já solicitou uma reunião com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) para discutir estratégias de proteção comercial.

Histórico de tensões comerciais entre Brasil e EUA

As relações comerciais entre os dois países já enfrentaram momentos de tensão. Em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro, os EUA impuseram tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiros, alegando prejuízos à indústria americana.

Na ocasião, o Brasil recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC) e conseguiu reverter parte das medidas. Desde então, os governos têm buscado evitar novos confrontos por meio de acordos bilaterais e diálogo diplomático.

Atualmente, os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2023, o comércio bilateral somou US$ 88,7 bilhões, com superávit de US$ 6,3 bilhões para os americanos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Desdobramentos políticos e institucionais

O posicionamento do governo brasileiro busca preservar a estabilidade econômica e evitar impactos sobre a balança comercial. A aprovação do PL da reciprocidade no Senado sinaliza uma postura mais firme do Congresso diante de ameaças externas.

Especialistas avaliam que o projeto pode ser um instrumento de pressão para negociações futuras. Segundo o economista Eduardo Giannetti, a medida “reforça a soberania comercial do país” e pode evitar abusos por parte de parceiros comerciais.

Contudo, há preocupação com o uso político da medida. Caso o projeto seja sancionado, o Executivo terá poder para retaliar países sem necessidade de aprovação legislativa prévia, o que pode gerar disputas judiciais ou questionamentos na OMC.

Cooperação internacional e acordos em andamento

O Brasil participa de negociações comerciais multilaterais no âmbito do Mercosul e da OMC. Além disso, mantém acordos bilaterais com países da América Latina, União Europeia e Ásia.

Com os EUA, há tratativas em curso para ampliar o Acordo de Comércio e Cooperação Econômica (ATEC), firmado em 2020. O objetivo é reduzir barreiras não tarifárias e aumentar a transparência regulatória.

O Itamaraty informou que o Brasil continuará buscando soluções diplomáticas para evitar medidas unilaterais. A expectativa é que o diálogo com o governo americano se intensifique após o anúncio oficial do tarifaço por Trump.

Perspectivas para o setor produtivo brasileiro

O setor produtivo acompanha com atenção os desdobramentos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que eventuais sanções podem afetar a retomada econômica e a geração de empregos.

Segundo a CNI, setores como agroindústria, metalurgia e tecnologia seriam os mais impactados. A entidade defende maior integração do Brasil às cadeias globais de valor e políticas de defesa comercial mais robustas.

No Amazonas, a preocupação é ainda maior devido à dependência da Zona Franca de insumos importados e exportações para os EUA. A bancada federal do estado articula ações junto ao Ministério das Relações Exteriores para proteger os interesses locais.

Conclusão: Brasil busca equilíbrio em cenário de incerteza

O governo brasileiro aposta na diplomacia e na reciprocidade como caminhos para evitar prejuízos comerciais. A posição de Haddad reflete a tentativa de manter o Brasil fora do foco de retaliações unilaterais.

Com a aprovação do PL da reciprocidade, o país se prepara para reagir, caso necessário. Enquanto isso, setores produtivos e autoridades monitoram de perto os próximos passos de Donald Trump e do governo americano.

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