Em um momento em que senadores, deputados e o governo eleito costuram acordos para viabilizar R$ 175 bilhões para bancar programas sociais de transferência de renda, a Comissão Senado do Futuro (CSF) debateu uma “porta de saída” para algumas famílias que dependem do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família, que deve ser retomado) para sobreviver: os títulos verdes. Em audiência pública nesta sexta-feira (25), participantes apontaram o potencial do mercado socioambiental positivo.
Os títulos verdes (ou green bonds, em inglês) são investimentos de renda fixa que visam obter recursos para projetos relacionados ao meio ambiente. É uma forma de empresas, produtores rurais e governos captarem recursos nos mercados de capitais para projetos sustentáveis.
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De acordo com Maria Tereza Umbelino, presidente do Brasil Mata Viva (BMV), apenas as áreas florestais públicas federais regularizadas possuem potencial de gerar em torno de US$ 275 bilhões anuais em ativos ambientais, o equivalente hoje a mais de US$ 1 trilhão.
— É uma forma de se investir na conservação da floresta gerando dividendos não só financeiros para empresas, como também dividendo ambiental. O próprio governo brasileiro tem um potencial de gerar receitas em cima disso. Receitas até extraorçamentárias. Estamos desperdiçando hoje quase US$ 500 bilhões não inseridos ao nosso PIB — apontou.
Diante de questionamentos do senador Izalci Lucas (PSDB-DF) sobre uma possível aplicação desses recursos para programas de transferência de renda, preocupação central no Congresso Nacional, o engenheiro florestal Angelo Santarlacci explicou que a ideia dos títulos verdes é captar recursos para investimentos. Ele ponderou, contudo, que essas aplicações poderiam ser destinadas para projetos sustentáveis de geração de renda em comunidades de regiões contempladas por serviços ambientais.
— Essas comunidades poderiam receber de forma indireta. Poderiam investir em cooperativas de produção local. Criar algum mecanismo para que essas pessoas possam empreender — apontou Santarlacci, que é sócio de uma empresa de consultoria na área ambiental.
Izalci Lucas afirmou que a medida poderia dar condições para pessoas que hoje dependem dos auxílios obterem outras fontes de renda.
— É mais uma porta de saída dos programas sociais. Poderia facilitar alguma atividade econômica — avaliou.
Diretora proprietária da Seiva Empreendimentos, empresa do ramo de projetos agrícolas sustentáveis, Gracita Barbosa afirmou que é possível elaborar junto com o Congresso uma modelagem para utilizar os recursos dos títulos verdes em ações socioambientais e ajudar a alavancar a economia:.
— Seria uma solução de país, para o produtor rural, para a questão ambiental, para o atendimento das nossas metas climáticas, para o próprio governo por meio do imposto recolhido nessas operações para a população.
|Fonte: Agência Senado