Pix na mira dos EUA: ameaça ao dólar e grandes empresas

Investigações apontam que o sistema de pagamento brasileiro desafia o domínio de empresas como Visa, Mastercard e o uso global do dólar.

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  • Em 15 de agosto, os EUA iniciaram investigação sobre práticas comerciais do Brasil ligadas ao sistema de pagamento Pix.
  • O Pix movimentou R$ 26,4 trilhões em 2024, consolidando-se como principal meio de pagamento no país.
  • O uso internacional do Pix preocupa os EUA por reduzir a dependência do dólar em transações.
  • O Banco Central lançará o Pix Parcelado em 2025, ampliando a concorrência com o crédito tradicional.

O governo dos Estados Unidos abriu, em 15 de agosto, uma investigação contra práticas comerciais do Brasil que considera “desleais”. O processo cita serviços de pagamento eletrônico promovidos pelo Estado brasileiro, o que levantou suspeitas sobre críticas indiretas ao Pix, sistema criado e gerido pelo Banco Central. A medida reacendeu tensões entre interesses econômicos dos EUA e a autonomia digital do Brasil.

O documento da Representação Comercial dos EUA (USTR) não menciona diretamente o Pix, mas aponta supostas vantagens indevidas de serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos por governos. A iniciativa ocorre em meio a discussões sobre o impacto do Pix em mercados dominados por empresas americanas, como as operadoras de cartão e o WhatsApp Pay.

Por que os EUA estariam incomodados com o Pix?

Especialistas apontam três possíveis motivações para a pressão norte-americana:

  • Concorrência com empresas americanas: O Pix reduziu o uso de cartões de crédito e débito, afetando diretamente bandeiras como Visa e Mastercard.
  • Interferência no mercado internacional: Em países como Paraguai e Panamá, comerciantes aceitam Pix como forma de pagamento, evitando conversões em dólar.
  • Conflito com o WhatsApp Pay: Em 2020, o Banco Central suspendeu a estreia do serviço no Brasil, alegando riscos ao sistema financeiro.

WhatsApp Pay x Pix: embate de 2020 ainda repercute

O WhatsApp Pay, da empresa Meta, foi lançado no Brasil em junho de 2020. Uma semana depois, o Banco Central e o Cade suspenderam a operação. A justificativa foi a falta de integração com o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e riscos à concorrência.

“O WhatsApp estava operando fora do sistema financeiro regulado, o que fere normas brasileiras de rastreabilidade de transações”, explicou Cristina Helena Mello, economista da PUC-SP.

O Pix, por sua vez, foi lançado oficialmente em novembro de 2020, após dois anos de desenvolvimento. O sistema é gratuito, instantâneo e operado pelo Banco Central, com adesão voluntária de instituições financeiras.

Pix como alternativa ao dólar preocupa os EUA

Segundo a economista da PUC-SP, o uso internacional do Pix pode reduzir a dependência do dólar em transações de brasileiros no exterior. Isso impacta diretamente a hegemonia da moeda norte-americana.

“Comerciantes estrangeiros recebem via Pix em contas no Brasil. Isso evita conversões cambiais e enfraquece o papel do dólar”, afirmou Mello.

A adoção crescente do Pix também ameaça o modelo tradicional de crédito. Em setembro de 2025, o Banco Central lançará o Pix Parcelado, que permitirá compras em parcelas com liquidação imediata para o vendedor — modelo semelhante ao dos cartões de crédito.

Pix movimentou R$ 26,4 trilhões em 2024

Dados do Banco Central mostram que o Pix já é o principal meio de pagamento do país. Em 2024, foram movimentados R$ 26,4 trilhões. O sistema é usado por pequenos negócios, autônomos e até pessoas em situação de rua.

“O Pix promoveu bancarização, inclusão financeira e redução de custos. É um modelo eficiente e seguro”, disse Mello.

No Amazonas, o sistema tem sido adotado por empreendedores informais, facilitando o recebimento de pagamentos em regiões de difícil acesso bancário. A expansão do Pix reforça a soberania digital brasileira frente a interesses externos.

Leia a nota do Escritório do Representante de Comércio dos EUA na íntegra

“O Brasil também parece se envolver em uma série de práticas desleais com relação a serviços de pagamento eletrônico, incluindo, entre outras, a vantagem de seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo.”

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