O general Júlio Cesar de Arruda afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que impediu a entrada da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) no acampamento em frente ao Quartel General do Exército, no dia 8 de janeiro de 2023, para garantir uma ação “coordenada” na prisão dos manifestantes. A declaração foi dada em audiência da ação penal que investiga o núcleo central da tentativa de golpe de Estado.
Arruda era o comandante do Exército na época e foi arrolado como testemunha de defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. O general disse não ter conhecimento de qualquer envolvimento de Cid em planos golpistas.
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General barrou PM para “evitar confronto”
Segundo Arruda, o general Dutra o alertou sobre a chegada da PM ao local. “Falei que precisava ser coordenado”, afirmou. O general relatou que se reuniu com os ministros José Múcio (Defesa), Flávio Dino (Justiça), Rui Costa (Casa Civil) e o então interventor da segurança do DF, Ricardo Capelli. O grupo decidiu realizar as prisões na manhã seguinte.
Mais de 1.400 pessoas foram presas após a operação. A decisão de adiar a ação contrariou ordem do ministro Alexandre de Moraes, que havia determinado a prisão imediata dos acampados.
Confronto com o STF e repercussões políticas
Moraes confrontou Arruda com o depoimento do coronel Fábio Augusto Vieira, da PMDF. Segundo o coronel, o general teria impedido a entrada da PM com a frase: “minha tropa é um pouco maior que a sua”. Arruda respondeu: “Não lembro”.
O episódio contribuiu para a demissão de Arruda do comando do Exército pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A crise expôs fragilidades na relação entre forças armadas e instituições civis.
Depoimentos buscam isentar Mauro Cid
Além de Arruda, mais quatro militares foram ouvidos como testemunhas de defesa de Cid. Todos relataram que o tenente-coronel era profissional e discreto, sem envolvimento político.
A defesa tenta mostrar que Cid não teve papel ativo na tentativa de golpe. As audiências fazem parte da primeira ação penal sobre os atos de 8 de janeiro, que apura a atuação do núcleo central da trama golpista.
Contexto nacional e impacto no Amazonas
A instabilidade institucional em Brasília repercutiu nos estados. No Amazonas, o governo estadual reforçou o monitoramento de grupos extremistas após os atos. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, não houve registros de acampamentos semelhantes no estado.
O caso segue em julgamento na Primeira Turma do STF. Bolsonaro e outros sete ex-integrantes do governo são réus. As audiências continuam com depoimentos das defesas de Anderson Torres e Walter Braga Netto.