O escândalo do “Careca do INSS” expõe mais um capítulo das fraudes bilionárias contra aposentados no Brasil. Um esquema de call centers, ligado a entidades suspeitas, oferecia viagens e presentes a funcionários enquanto aplicava descontos indevidos em benefícios do INSS. A Polícia Federal (PF) investiga o caso, que já provocou demissões no alto escalão da Previdência.
Reportagem do Metrópoles revelou como empresas como Truetrust e Callvox operavam centrais de atendimento para lidar com reclamações de aposentados. Essas centrais eram usadas para responder queixas sobre cobranças não autorizadas, ao mesmo tempo em que mantinham o esquema ativo.
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Call center premiava funcionários com viagens e presentes
Segundo uma ex-funcionária, os operadores recebiam viagens mensais para Belo Horizonte. Lá, ganhavam dinheiro para compras, perfumes importados e jantares caros. Os passeios eram organizados por Domingos Sávio de Castro e Adelino Rodrigues Junior, ligados ao lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.
As viagens aumentaram a partir de novembro de 2023, quando o número de funcionários cresceu. A PF identificou passagens compradas para várias pessoas com o mesmo código localizador. A movimentação coincide com o auge dos descontos indevidos em aposentadorias.
Empresas e entidades no centro das fraudes
A empresa Truetrust, criada em junho de 2023, pertence a Antunes e Sávio. A razão social é ACDS Call Center, cujas iniciais remetem aos nomes dos sócios. A PF aponta repasses milionários das entidades para contas pessoais dos envolvidos, como os R$ 4,8 milhões da Unaspub e os R$ 540,5 mil da Abrasprev.
As entidades atuavam como fachada para aplicar o chamado “golpe da mensalidade”. A CBPA, por exemplo, saltou de zero arrecadação em 2022 para R$ 57,8 milhões em 2023. O Amazonas, com população idosa crescente, pode ter sido afetado, já que os descontos eram feitos diretamente na folha de pagamento nacional do INSS.
Roteiro de atendimento escondia a fraude
Os atendentes seguiam um script. A orientação era prometer devolução do valor em 10 dias. Depois, o prazo aumentava para 20 e até 30 dias. Desde novembro de 2024, os reembolsos ficaram mais raros, segundo a ex-funcionária.
Os operadores diziam que os descontos foram autorizados por links de WhatsApp ou chamadas de telemarketing. Muitos aposentados, especialmente os de baixa escolaridade, não sabiam que estavam sendo filiados a entidades.
Impacto político e ações judiciais
O caso levou à queda do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi. A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu o bloqueio de R$ 2,56 bilhões de 12 entidades. A CBPA continua entre as investigadas.
O escândalo reforça a necessidade de fiscalização sobre entidades que atuam junto ao INSS. Estados como o Amazonas, com alta dependência da Previdência, precisam de atenção redobrada. A digitalização dos serviços e a falta de controle sobre autorizações eletrônicas facilitaram as fraudes.