O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ironizou neste domingo (30) o ato organizado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na Avenida Paulista, em São Paulo. A manifestação foi convocada contra a proposta de anistia a envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. Com baixa adesão popular, o evento foi alvo de críticas e chacotas por parte da oposição.
Bolsonaro usou as redes sociais para zombar do número de participantes. Em tom sarcástico, afirmou que “5 bilhões de pessoas” teriam comparecido ao protesto, fazendo alusão a divergências em estimativas anteriores entre a Universidade de São Paulo (USP) e a Rede Globo.
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“Segundo a USP e a Rede Globo, manifestação do PT contra a anistia dos presos políticos do 8 de janeiro tem 5 bilhões de pessoas!”, escreveu Bolsonaro em seu perfil no X (antigo Twitter).
Bolsonaro ironiza ato do PT na Paulista
O ex-presidente aproveitou a baixa presença no ato do PT para reforçar seu discurso sobre perseguição política. Segundo ele, os manifestantes buscavam impedir o avanço da proposta de anistia no Congresso Nacional.
O projeto, apoiado por parlamentares da direita, pretende perdoar crimes cometidos durante os protestos de 8 de janeiro, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. A proposta tramita na Câmara dos Deputados e enfrenta forte resistência de partidos de esquerda.
Durante o ato, lideranças petistas criticaram diretamente Bolsonaro, apontando-o como o principal beneficiário da eventual anistia. Para eles, o perdão seria uma forma de blindar o ex-presidente de futuras condenações.
STF torna Bolsonaro réu por tentativa de golpe
A manifestação ocorre em meio ao agravamento da situação jurídica de Bolsonaro. Na última semana, o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente.
Ele se tornou réu por incitação ao golpe de Estado e associação criminosa. As acusações se baseiam em declarações feitas por Bolsonaro a embaixadores estrangeiros, nas quais questionou a lisura das eleições de 2022 e a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O inquérito é parte da investigação sobre articulações golpistas que culminaram nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. O STF já condenou dezenas de envolvidos nos protestos, com penas que variam de 3 a 17 anos de prisão.
Direita pressiona por anistia no Congresso
A proposta de anistia vem sendo articulada por parlamentares da base bolsonarista. O deputado federal Domingos Sávio (PL-MG) apresentou o Projeto de Lei 1.688/2024, que prevê a anistia de todos os réus e investigados pelos atos de 8 de janeiro.
O texto ainda não foi pautado pela presidência da Câmara, mas conta com apoio de parte significativa da oposição. A esquerda, por sua vez, promete barrar a proposta, alegando que ela representa um retrocesso democrático e uma afronta às instituições.
Para o PT, a anistia significaria impunidade para crimes contra o Estado Democrático de Direito. A legenda tem mobilizado sua militância e aliados para pressionar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a não colocar o projeto em votação.
Comparação com ato bolsonarista em Copacabana
Bolsonaro também aproveitou a ocasião para comparar o ato petista ao evento que ele próprio convocou em 16 de março, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Na ocasião, milhares de apoiadores se reuniram em defesa da anistia e em protesto contra o STF.
Segundo organizadores, o evento contou com a presença de mais de 500 mil pessoas. Já o ato do PT na Avenida Paulista não atingiu 10 mil participantes, de acordo com estimativas da Polícia Militar de São Paulo.
O contraste entre os dois eventos tem sido usado por aliados de Bolsonaro para demonstrar sua força popular e a suposta perda de apoio do governo Lula nas ruas.
Disputa política e institucional segue acirrada
O embate entre direita e esquerda em torno da anistia reflete a polarização que ainda marca a política brasileira. Enquanto Bolsonaro tenta mobilizar sua base com pautas como liberdade de expressão e perseguição política, o governo Lula busca consolidar sua narrativa de defesa da democracia.
No Congresso, a proposta de anistia pode se tornar um novo campo de batalha. A depender da evolução do processo no STF, a pressão sobre os parlamentares pode aumentar, especialmente se novas denúncias contra Bolsonaro forem aceitas.
Além disso, a tramitação do projeto pode influenciar o cenário eleitoral de 2024, sobretudo em capitais como Manaus, onde a base bolsonarista tem presença relevante. A Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM) e a Câmara Municipal de Manaus (CMM) acompanham os desdobramentos em Brasília com atenção.
Impactos no Amazonas e em Manaus
No contexto regional, a proposta de anistia também repercute. Parlamentares do Amazonas ligados ao PL e ao União Brasil têm se posicionado favoravelmente ao projeto. Já deputados alinhados ao governo Lula criticam a medida.
Em Manaus, a pauta divide a opinião pública. Movimentos de direita têm realizado manifestações em apoio à anistia, enquanto entidades ligadas aos direitos humanos denunciam a tentativa de apagar crimes graves contra o Estado.
O governador Wilson Lima (União Brasil), que mantém postura cautelosa, ainda não se pronunciou oficialmente sobre o tema. No entanto, integrantes de sua base na ALE-AM demonstram simpatia pela proposta.
A depender do avanço da proposta no Congresso, o debate pode influenciar a eleição municipal de 2024 em Manaus. Pré-candidatos à prefeitura deverão se posicionar sobre o tema, especialmente os que disputam o eleitorado conservador.
Possíveis desdobramentos políticos
Especialistas avaliam que a proposta de anistia pode gerar efeitos institucionais duradouros. Caso aprovada, pode abrir precedente para a revisão de decisões judiciais já transitadas em julgado.
Além disso, pode tensionar ainda mais a relação entre os Poderes, especialmente entre o Legislativo e o Judiciário. O STF já sinalizou que considera a proposta inconstitucional, por violar princípios do Estado Democrático de Direito.
Para a sociedade, a aprovação da anistia pode gerar sensação de impunidade, afetando a confiança nas instituições. Por outro lado, parte da população vê a medida como necessária para pacificar o país e encerrar o ciclo de polarização.
Enquanto isso, Bolsonaro segue como figura central do debate. Réu no STF e alvo de investigações, ele tenta se manter politicamente ativo e influente, especialmente entre os conservadores.
Conclusão
A ironia de Bolsonaro sobre o ato do PT expõe a disputa narrativa entre os polos políticos. Com a proposta de anistia em pauta, o embate tende a se intensificar nas próximas semanas, com reflexos tanto em Brasília quanto nos estados, como o Amazonas.
O desfecho dependerá da articulação política no Congresso e da atuação do STF. Até lá, o tema seguirá mobilizando militantes, parlamentares e a opinião pública.