Bilionário encerra passagem polêmica à frente do Departamento de Eficiência Governamental
O empresário Elon Musk oficializou sua saída do governo Trump nesta quarta-feira (28), após um mandato de 130 dias como funcionário especial no Departamento de Eficiência Governamental (Doge). Segundo uma autoridade da Casa Branca, seu desligamento “começará hoje à noite”, encerrando um período conturbado marcado por cortes radicais e confrontos internos.
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Musk se despediu publicamente em sua rede social X (antigo Twitter), agradecendo ao ex-presidente Donald Trump. A decisão de saída teria sido tomada sem conversa direta com o republicano e articulada por integrantes de alto escalão da Casa Branca.
Críticas ao projeto de lei tributário precipitaram saída
A saída de Musk ocorre um dia após ele criticar abertamente o novo projeto de lei tributário do governo Trump. O bilionário classificou a proposta como “muito cara” e prejudicial ao seu trabalho no Doge, o que gerou forte reação de membros do governo, incluindo o vice-chefe de gabinete, Stephen Miller.
Segundo fontes do governo, a Casa Branca teve de intervir junto a senadores republicanos para conter o impacto político das declarações de Musk e reafirmar o apoio de Trump ao pacote fiscal.
Conflitos com o gabinete e promessas não cumpridas
Desde sua nomeação, Elon Musk assumiu postura agressiva ao prometer cortes de até US$ 2 trilhões em gastos federais. No entanto, o Doge estima que conseguiu economizar apenas US$ 175 bilhões — valor ainda não confirmado por fontes independentes.
A retórica combativa e a proposta de extinguir órgãos federais geraram desconforto crescente entre membros do gabinete, como os secretários Marco Rubio (Estado), Sean Duffy (Transportes) e Scott Bessent (Tesouro). Musk também entrou em atrito com o assessor comercial Peter Navarro, a quem chamou de “idiota” e “mais burro do que um saco de tijolos”.
Queda de influência e afastamento progressivo
Ao longo das últimas semanas, Musk começou a sinalizar que deixaria o governo para focar nos seus negócios privados. Em teleconferência da Tesla, no dia 22 de abril, já indicava redução de sua atuação no Doge.
Em entrevista ao The Washington Post, Musk afirmou que a burocracia federal era “muito pior” do que imaginava. “Com certeza é uma batalha difícil tentar melhorar as coisas”, declarou.
Apesar de manter laços próximos com Trump, sua influência diminuiu após o presidente reafirmar que decisões sobre pessoal caberiam aos secretários e não a Musk. Isso incentivou ministros a barrar cortes radicais propostos pelo bilionário.
Legado e continuidade do Doge
A criação do Doge foi uma das bandeiras da nova gestão de Trump, com foco na eliminação de desperdícios e reestruturação da máquina pública. A escolha de Musk visava aproveitar sua imagem de gestor disruptivo e seu histórico empresarial.
Durante sua gestão, Musk tentou revogar o trabalho remoto implementado na pandemia, classificando-o como “privilégio da era covid” e prevendo “demissões voluntárias em massa que saudamos”.
Agora, com a saída do executivo, o futuro do Doge será reavaliado. A Casa Branca garantiu que o órgão continuará ativo, mas ainda não nomeou um substituto imediato.
Repercussão e impactos políticos
O fim do curto, porém ruidoso, mandato de Musk levanta questões sobre o equilíbrio entre inovação e institucionalidade no governo federal. A tentativa de aplicar práticas empresariais no setor público esbarrou em resistências políticas e legais.
Para analistas, a experiência de Musk pode influenciar o debate sobre reforma administrativa nos Estados Unidos e colocar em xeque a efetividade de soluções radicais no combate à burocracia.
Enquanto isso, observadores políticos apontam que a saída pode representar um alívio para parte do Congresso, que via com preocupação os cortes indiscriminados propostos pelo Doge.
No cenário eleitoral, a perda de um aliado midiático e influente como Musk pode representar um revés estratégico para Trump, que buscava reforçar sua agenda de eficiência governamental rumo às eleições de 2024.
Lições para o Brasil: desburocratização e limites institucionais
A experiência de Musk nos EUA pode gerar paralelos com o debate brasileiro sobre reforma do Estado. A desburocratização também é tema recorrente no Congresso Nacional e nos governos estaduais, incluindo o governo do Amazonas.
No entanto, o caso mostra os desafios de implementar cortes profundos sem consenso político e institucional. No Brasil, propostas semelhantes encontram entraves legais, sindicais e judiciais — como as iniciativas para redução de cargos comissionados e modernização administrat
O episódio serve de alerta para a necessidade de reformas estruturadas e negociadas, evitando rupturas que possam comprometer serviços públicos essenciais.