Líder do Solidariedade na Câmara dos Deputados, Áureo Ribeiro (RJ) reafirmou o apoio da bancada ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista ao portal Metrópoles, o parlamentar contestou o presidente nacional do partido, deputado Paulinho da Força (SP), que tem adotado postura crítica ao Planalto.
“Paulinho é uma voz solitária no partido, na oposição. Os deputados continuam na base do governo”, afirmou Áureo. A declaração foi dada após sua participação em evento com Lula sobre a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
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Solidariedade mantém base com Lula apesar de divergências
Apesar das críticas de Paulinho da Força, o Solidariedade mantém cargos na estrutura de apoio ao governo. A deputada Maria Arraes (PE), por exemplo, ocupa uma das vice-lideranças do governo na Câmara. Ela é irmã de Marília Arraes, ex-deputada federal e ex-integrante do PT, que apoiou Lula nas eleições de 2022.
Paulinho da Força, por sua vez, tem se distanciado do presidente. No Dia Internacional da Mulher, publicou vídeo criticando falas de Lula consideradas machistas. Segundo interlocutores, o gesto foi interpretado como um passo rumo ao rompimento político com o petista.
Nos bastidores, Paulinho tem sinalizado que não vê possibilidade de reconciliação. A aliança firmada em 2022, quando o Solidariedade apoiou a candidatura de Lula, passou a ser tratada como um “episódio isolado”.
Divisão interna expõe crise de identidade no partido
A divergência entre os dois principais nomes do Solidariedade escancara uma crise interna. De um lado, a direção nacional, liderada por Paulinho, tenta reposicionar o partido na oposição. De outro, a bancada na Câmara mantém alinhamento com o Planalto.
Essa tensão reflete um dilema enfrentado por siglas de médio porte no Congresso. O Solidariedade, com apenas cinco deputados federais, precisa equilibrar interesses regionais e nacionais. A manutenção de cargos na base do governo garante influência e acesso a recursos.
Segundo dados da Câmara dos Deputados, o partido ocupa atualmente uma vice-liderança governista e participa de comissões estratégicas. A posição oficial do partido, no entanto, segue indefinida.
Impactos no cenário político nacional e regional
A postura ambígua do Solidariedade pode influenciar votações importantes no Congresso. Com a base aliada de Lula enfrentando dificuldades para consolidar maioria, cada voto conta. A fidelidade da bancada do Solidariedade pode ser decisiva em projetos como a reforma tributária e a nova âncora fiscal.
No plano regional, o posicionamento do partido também gera repercussões. No Amazonas, o Solidariedade tem presença discreta, mas pode ampliar espaço com apoio ao governo federal. Políticos locais avaliam que a manutenção do partido na base pode facilitar a liberação de recursos e emendas parlamentares para o estado.
A deputada Maria Arraes, por exemplo, tem atuado em defesa de pautas sociais e de desenvolvimento regional, alinhadas com o discurso do governo. Sua atuação como vice-líder pode fortalecer a imagem do partido em estados do Norte e Nordeste.
Histórico de apoio e distanciamento com o governo Lula
O Solidariedade apoiou oficialmente a candidatura de Lula em 2022. Paulinho da Força, inclusive, participou de eventos de campanha e foi um dos articuladores da aliança com setores do sindicalismo. No entanto, após a posse, o dirigente passou a criticar a condução política do governo.
Em entrevistas recentes, Paulinho reclamou da falta de diálogo com partidos aliados e da ausência de espaço para o Solidariedade em decisões estratégicas. As críticas aumentaram após declarações polêmicas de Lula sobre mulheres e outros temas sensíveis.
Apesar disso, a base do partido na Câmara manteve-se firme no apoio ao governo. Segundo levantamento do Painel do Voto, os deputados do Solidariedade votaram majoritariamente com o governo em pautas centrais no primeiro semestre de 2024.
Possíveis desdobramentos e cenário futuro
A divisão entre Paulinho da Força e Áureo Ribeiro pode ter consequências institucionais. Se o presidente do partido insistir em levar o Solidariedade para a oposição, poderá enfrentar resistência da bancada. Em casos extremos, há possibilidade de judicialização da disputa interna.
Especialistas em direito partidário apontam que, em situações de conflito entre direção e bancada, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pode ser acionado. A jurisprudência da Corte tem reconhecido a autonomia das bancadas em determinadas circunstâncias, especialmente quando há divergência sobre fidelidade partidária.
Além disso, o cenário pode impactar alianças para as eleições municipais de 2024. Em cidades como Manaus, onde o Solidariedade busca ampliar sua presença, o alinhamento com o governo federal pode ser um trunfo. Prefeitos e vereadores tendem a buscar partidos com acesso ao Planalto.
Repercussão entre lideranças e analistas políticos
Lideranças de outros partidos acompanham com atenção a disputa interna no Solidariedade. A manutenção da base aliada é prioridade para o governo Lula, que enfrenta desafios no Congresso e precisa consolidar apoio para aprovar projetos estruturantes.
Analistas políticos ouvidos pelo Portal Os 3 Poderes avaliam que a fala de Áureo Ribeiro foi estratégica. Ao se contrapor a Paulinho, ele busca reforçar sua liderança interna e garantir espaço nas negociações com o governo. A proximidade com Lula também pode render capital político para 2026.
Já Paulinho da Força tenta reposicionar o partido como alternativa ao lulismo, de olho no eleitorado de centro. Sua crítica à postura do presidente em temas sociais indica uma tentativa de se diferenciar e atrair setores insatisfeitos com o governo.
Contexto institucional e papel do TSE
Em caso de agravamento do conflito, o Tribunal Superior Eleitoral poderá ser chamado a intervir. A legislação brasileira prevê que disputas internas podem ser resolvidas judicialmente, especialmente quando envolvem fidelidade partidária e uso do fundo eleitoral.
O artigo 17 da Constituição Federal assegura a autonomia dos partidos, mas também estabelece regras para sua organização interna. O TSE tem jurisprudência consolidada sobre casos de infidelidade partidária, como previsto na Lei nº 9.096/1995, que rege os partidos políticos.
Se a bancada do Solidariedade decidir se manter na base do governo, mesmo contra a orientação da direção nacional, poderá alegar justa causa para eventual desfiliação. Isso garantiria aos deputados o direito de manterem seus mandatos, conforme entendimento do TSE.
Conclusão: Solidariedade entre a base e a oposição
A declaração de Áureo Ribeiro evidencia um racha interno no Solidariedade. Enquanto a presidência do partido sinaliza afastamento do governo Lula, a bancada na Câmara reafirma apoio ao Planalto. Essa divisão pode influenciar votações, alianças regionais e o futuro político da sigla.
Com a aproximação das eleições municipais, o partido precisará definir sua posição de forma clara. O apoio ao governo pode garantir benefícios institucionais, mas o reposicionamento político também pode atrair novos eleitores. O desfecho dessa disputa interna será decisivo para o papel do Solidariedade no cenário político nacional e no Amazonas.